quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PROPOSTA DE SOLUÇÃO PARA REFORMAS DA SEGURANÇA SOCIAL


SEGURANÇA SOCIAL (REFORMAS)

UMA SOLUÇÃO PARA PORTUGAL (?)

UMA SOLUÇÃO PARA A EUROPA (?)

Introdução

Nos tempos actuais, praticamente todos os dias se tem ouvido falar dum novo paradigma social:

As pessoas vivem mais tempo, morrem muito mais tarde do que acontecia há poucas décadas atrás, com evolução significativa na esperança média de vida que apenas em 100 anos, passou de 45 anos para cerca de 80 anos, no novo século XXI em que vivemos. Este facto constitui uma nova esperança de vitalidade ou um novo drama social?

Este facto é uma alegria para a toda a humanidade ou é um desespero para a sustentabilidade do sistema de segurança social, vulgo reformas dos mais velhos?

São os adultos mais jovens que têm de sustentar o sistema, dizem muitos economistas! Mas os reformados não passaram, dentro das regras e normas sociais vigentes em cada país europeu, uma vida de trabalho fazendo legalmente os seus descontos, eles e as suas entidades patronais, através de taxas sociais estipuladas, para mais tarde, na chamada terceira idade usufruírem, dentro da sua expectativa, da justa e esperada reforma? Sim é verdade, mas acontece que vivendo mais tempo, com a contínua evolução da medicina e da ciência em geral, o sistema corre sérios riscos de não ser sustentável, continuando-se a pagar reformas cada vez mais prolongadas no tempo de vida dos reformados que têm por sua vez de sobreviver condignamente.

 

A gravar este problema, acontece em simultâneo, que a taxa de natalidade em quase todos os países europeus é cada vez mais baixa!

Desta forma como haverá no futuro indivíduos mais novos em número suficiente para poderem pagar as reformas dos mais velhos? Estaremos perante um “beco sem saída” e com conflitos de gerações inevitáveis?

Irão as reformas acabar no futuro e quem quiser que se governe por si mesmo, ao acaso das suas preventivas poupanças individuais, assegurando como puderem o seu futuro, até morrerem?

Irão os novos governantes dos diferentes estados europeus demitir-se desta nobre missão social?

Irá a Europa entrar em colapso social neste domínio de solidariedade?

Haverá alguma solução à vista?

Cremos que pode e deverá haver.

 

Este documento pretende apresentar uma proposta que nos parece credível e sustentável, utilizando esta palavra “mágica”, sustentável, que os grandes especialistas económicos e financeiros tanto gostam de utilizar nos seus discursos.

Vamos ver.

Mas convidamos os leitores a seguirem um raciocínio científico de evolução biopsicossocial e alguma imaginação e criatividade, sempre tão necessárias, mesmo nas grandes teorias financeiras e económicas, muito mais em temas sociais.

 

Acreditamos num novo paradigma, numa nova proposta sócio-profissional, utilizando conhecimentos da Psicologia actual.

Venham connosco.

Não seremos muito longos nem utilizaremos ideias complexas, pois gostamos mais de ideias simples, normalmente mais eficazes, até pela maior evidência de compreensão imediata.

Aceitem o convite sem qualquer compromisso prévio, a não ser a vossa qualidade de seres humanos inteligentes e criativos. Nada mais.

 

Estado da Arte: Alguns contributos da Psicologia Científica

 

Desenvolvimento Humano

 

·         Sabe-se hoje por variados avanços científicos relacionados com a evolução do homem ao longo da vida em permanente aprendizagem, nomeadamente através de estudos de diferentes investigadores, que o ser humano atravessa diferentes etapas vitais, desde a infância até à idade adulta, com transições e crises, com mudanças de comportamentos e até muitas vezes da própria personalidade.

·         Jean Piaget (1896-1980) estudou e estabeleceu diferentes etapas de desenvolvimento humano desde o sensório motor dos bebés, passando pela fase do imaginário e de operações concretas da infância até às operações formais de maior complexidade da adolescência, onde terminaria o principal desenvolvimento da personalidade dos indivíduos, segundo este autor.

·         Depois, Erik Erikson (1902-1994) investigou e fez referência às inúmeras transições de vida por que todos passamos, os vários acontecimentos de vida e mesmo determinadas crises esperadas ou não esperadas, estabelecendo com a sua teoria do Ciclo Vital, isto é, durante toda a vida do indivíduo, as grandes e pequenas mudanças que durante todo esse ciclo dos sujeitos, poderiam determinar diferentes formas de comportamento de interacção e convivência social, implicando mesmo transformações de personalidade, susceptíveis de acontecer até ao fim da vida de cada um de nós e não apenas até idades mais jovens, como Piaget pensava anteriormente.

 

·         Todo o ser humano em qualquer idade convive permanentemente com quatro dimensões vitais, igualmente importantes para o seu constante desenvolvimento humano, progresso e adaptação ao ambiente socioeconómico e cultural envolvente, em cada caso:

§  Dimensão Biológica ou Física

§  Dimensão Psicológica

§  Dimensão Social

§  Dimensão Espiritual

 

·         A dimensão biológica relaciona-se com a genética hereditária do indivíduo e com aspectos físicos inatos e adquiridos.

 

·         A dimensão psíquica ou psicológica, relaciona-se sobretudo com aspectos cognitivos e emocionais, intrinsecamente ligados, quer consideremos teorias comportamentais de Pavlov, Skinner, Thorndike e outros, quer consideremos teorias cognitivistas ou mesmos construtivistas, estas últimas contemplando já os diferentes contextos ambientais que influenciam diferentes atitudes e comportamentos. As diferentes assimilações de interacção interpessoal e social a que os sujeitos são submetidos, vão determinar diferentes acomodações cognitivas e emocionais de adaptação social, que determinam os diferentes comportamentos individuais a todo o momento.

 

·         Por outro lado a dimensão social propriamente dita, contempla as diversas interacções de vida em sociedade de cada sujeito, todas as relações interpessoais, com contextos específicos determinantes, profissionais, familiares, de pares e amigos, com diferentes hábitos culturais e diferentes normas sociais vigentes, muitas de carácter coercivo, entre outras possíveis influências comportamentais.

§  Bronfenbrenner (1907-2005) fala-nos do sistema ecológico de vivência social, com vários subsistemas associados e complementares. Assim, em sistemas concêntricos de âmbito progressivo, temos o microssistema, composto pela família e mais próximos, o mesossistema, composto pela escola, trabalho e relações sociais, e o macrossistema onde está a cultura, as normas vigentes da sociedade, os governos, etc. O ser humano terá de mover-se, adaptando-se com a sua inteligência social a este sistema ecológico da vida de cada um de nós.

§  Bandura (1977) fala-nos de modelos de educação e formação dos indivíduos, por modelagem vicariante, ou seja, seguimento de modelos à nossa volta, que irão gerar comportamentos mais ou menos adequados em cada situação concreta. O modelo sistémico em psicologia deu passos decisivos de evolução com este investigador, Bandura, entre outros, nomeadamente pela necessidade de percebermos melhor o mundo e os comportamentos humanos, á luz da integração sócio-familiar, dando origem à terapêutica familiar, por exemplo, e não apenas o sujeito visto isoladamente, nos seus problemas, na razão dos seus hábitos e comportamentos individuais, muitas vezes melhor explicados pelo núcleo social envolvente e pelos modelos de influência que vai sofrendo, positiva ou negativamente. Assim o desenvolvimento individual de cada sujeito dependerá em boa medida de toda a sua dimensão social, na relação inevitável com os outros, o mundo à sua volta, em diversos contextos que irá gerar o “mundo interno” individual de cada um de nós.

 

·         Enfim chegamos à última das quatro dimensões humanas, a dimensão espiritual.

Imensos autores têm feito referência à chamada vida espiritual dos humanos, como necessidade de existência intrínseca e fundamental.

Não façamos confusão fácil com ideologias de fé ou de fundamentação religiosa. Não se trata disso.

Quando falamos em dimensão espiritual, estamos sim a querer significar algo que sai dos simples limites da dimensão física, psíquica ou social, embora com estas se cruze em cada instante de vida.

Pode passar por contemplação abstracta da natureza em qualquer das suas formas, pode passar pela música, pela poesia, pela literatura, entre outras artes, ou por simples passeios pela serra ou à beira-mar.

Cada sujeito irá encontrando as suas formas específicas desta tão necessária dimensão espiritual que nos dá alento e energia vital para “enfrentarmos o mundo” que nos rodeia, por vezes tão estranho e misterioso.

Claro que as várias religiões do mundo bem como algumas práticas místicas orientais, também podem constituir para muitos, a sua principal dimensão espiritual. Mas serão apenas isso mesmo, um dos meios para a alcançar, nada mais e sem restrições de exclusividade ou fanatismo, sempre nefastos.

Cada um saberá de si próprio, num caminho de liberdade a que deve ter direito inquestionável, tendo presente que para melhor equilíbrio emocional, não deverá descurar a sua própria dimensão espiritual ou da “alma” dos poetas, se preferirem, como prática necessária à sua vida mais completa.

 

O envelhecimento humano

 

·         Os homens e as mulheres de meia-idade procuram atingir as suas principais metas de vida, nesta fase do seu ciclo vital, no relativo á sua carreira, à sua família e ao seu ambiente social em geral.

·         Acontece todavia que nesta fase da meia-idade têm lugar várias mudanças características desta etapa da vida, como sejam a baixa de rendimento físico, início de doenças crónicas ligadas a processos degenerativos, como consequência muitas vezes da menopausa nas mulheres e da andropausa nos homens, com inevitáveis baixas de estrogénios e testosterona, como factores preponderantes do declínio físico, comportando inevitavelmente consequências psicológicas.

·         Na transição para a chamada terceira idade, entre os 50 e os 65 anos, homens e mulheres questionam os seus percursos de vida com maior frequência e intensidade do que até então acontecia. Segundo Erikson, duas posições antagónicas se atingem na chamada terceira idade: Integridade e Desespero.

§  Integridade, se nas cognições do indivíduo predominam pensamentos de que a vida teve sentido, se for considerado um percurso vital de saldo positivo, sendo dominante nestas circunstâncias a melhor defesa da dignidade, mesmo em situações sociais adversas, profissionais ou outras, estabelecendo melhores estratégias perante o stress social ou ameaças físicas e psicológicas, em geral.

§  Desespero, se pelo contrário, for realizada uma avaliação negativa da vida, considerando-se em exagero oportunidades perdidas, com permanentes reformulações de escolhas de decisões passadas, concluindo-se pelo fatídico “demasiado tarde”, surgindo com mais frequência as sensações de angústia, pânico e medo do fim que se aproxima.

·         As principais dificuldades a ter em conta são a aproximação da reforma, a necessidade de lidar com todo o processo de envelhecimento e perda de capacidades, a prestação de cuidados de saúde própria ou do conjugue e lidar com a morte de pares e familiares. (Moreira e Melo, 2005)

·         Nesta fase de meia-idade que tentamos caracterizar, incluindo a transição de vida para a terceira e quarta idade subsequentes (vários autores apontam modernamente a quarta idade a partir dos 80 anos de vida), além das incapacidades físicas e intelectuais que começam a verificar-se na maioria dos sujeitos, com maior ou menor intensidade e frequência, vários factores de risco poderão ser associados.

·         Serão os casos das perdas ou lutos, riscos de isolamento ou de rejeição social progressiva e talvez o maior risco de todos, a perda progressiva, por vezes abrupta, de papéis significativos de vida. A importância destes papéis é quase vital para muitos e a sua perda, nomeadamente com a reforma das suas actividades principais, pode tornar-se um verdadeiro obstáculo para uma sequência de vida mais saudável.

·         De tal forma que esta perda significativa de papéis sociais pode revelar-se negativamente mais importante do que as próprias doenças físicas! Efectivamente as doenças físicas de alguma maneira irão sendo ultrapassadas, adquirindo-se hábitos de saber conviver com elas e com as inevitáveis limitações físicas, nomeadamente se a pessoa continuar a desfrutar de papéis relevantes na sociedade.

·         Acreditamos assim que para além do seu papel directo no bem-estar psicológico de cada indivíduo, a continuidade de papéis significativos pode determinar e influenciar a própria saúde física e orgânica, relacionada com os processos de envelhecimento humano.

·         A reforma ou a sua aproximação pode constituir uma fonte de satisfação, nomeadamente pela maior disponibilidade para a família, para os primeiros netos, para os outros em geral e para cada sujeito em si mesmo, mais tempo para si próprio, como muitos anseiam, para alem do mundo social.

·         Mas, aparentemente e de forma parodoxal, também pode constituir uma nova fonte de stress, com as seguintes questões muito práticas:

§  O que vou fazer agora?

§  Como vou ocupar o meu tempo?

§  Como irão os outros passar a ver-me? O que pensarão a meu respeito?

 

·         Por outro lado o stress positivo a que as obrigações profissionais nos obrigavam, deixa de existir, constituindo, pelo seu vazio, também nova fonte stressora na nova vida de maior desocupação e de menos compromissos a assumir. Se o microssistema familiar for muito reduzido e/ou pouco solidário, se não houver netos, por exemplo, todos estes aspectos provavelmente se apresentarão ao indivíduo, de forma mais penalizante, contribuindo para maior isolamento e influenciando com maior tendência para ansiedade patológica e depressão, entre outras doenças.

·         Na transição para a terceira idade e fazendo projecções futuras, homens e mulheres, uns mais do que outros, como em qualquer outra etapa das suas vidas, procuram diferentes situações de busca de bem-estar, convivendo melhor ou pior com as doenças que surgirem, mas provavelmente apenas alguns conseguirão continuar a ter índices de felicidade que consideram aceitáveis, nomeadamente nos padrões que sempre conheceram até então, se tiver sido esse o caso.

·         São frequentes sentimentos de rejeição e perda, ligados ao vazio que o afastamento de certas obrigações socioprofissionais determinou.

 

·         Com estes sentimentos e emoções, com baixa de auto-estima inerente ao processo de envelhecimento inevitável, com a agravante do aparecimento de mais doenças e perda de algumas capacidades, o quadro torna-se bastante negativo e complexo para muitos seres humanos nesta fase de vida!

 

·         O que se poderá fazer?

Promoção e adaptação a diferentes papéis sociais

 

Para além dos chamados factores protectores do envelhecimento, como sejam os apoios familiares, apoios de pares e diferentes apoios sociais (serviços de saúde, grupos de apoio públicos ou privados e iniciativas de acções de voluntariado, por exemplo), torna-se absolutamente necessário como apoio de 1ª linha, a oportunidade para novos ou continuados papéis significativos a exercer na sociedade.

Este aspecto apresenta-se cada vez mais relevante, pelo próprio prolongamento de vida, cada vez mais longa. Nas sociedades ocidentais da actualidade é frequente verem-se pessoas a exerceram cargos de relevo, com idades de 70 anos e até 80 anos, muito para além das idades de reforma tradicionais.

Infelizmente não é um processo transversal a todos os reformados mais velhos, mas limitado a alguns casos situacionais da vida pública ou privada, quase sempre no seio de elites sociais ou afins.

Normalmente, adequadas intervenções psicológicas exercidas de forma competente, por profissionais competentes, podem realizar nestas idades da vida de cada um de nós, excelente ajuda nas formas e estratégias de adaptação a novos e significativos papéis sociais a exercer pelos indivíduos.

Se os diferentes intérpretes do período mais crítico do envelhecimento humano, desde a meia-idade até idades mais avançadas que venham a conseguir atingir, continuarem a ser reconhecidos como pessoas úteis, necessárias, ou por vezes mesmo determinantes na evolução das sociedades, melhor saberão suportar as etapas naturais do envelhecimento que é inevitável.

Se seus contínuos desenvolvimentos, com mais sabedoria, com contributos decisivos e derivados das suas experiências acumuladas, do seu saber acumulado, com a vantagem natural de não estarem já em fases centralizadas e egocêntricas das suas carreiras profissionais e sociais, logo mais disponíveis e abertos para os outros (por isso gerações mais velhas se costumam dar muito bem com gerações mais novas e descontínuas, como avós e netos sociais), mais facilmente poderão encarar os seus processos de envelhecimento, melhor suportarão as doenças e melhor provavelmente saberão esperar o fim.

Mas talvez mais importante do que tudo isto, será o facto de viverem com melhor qualidade de vida, melhor sensação de bem-estar e melhor Coping pessoal, como forma de lidar com o stress social de diferentes origens. Por outro lado, não se sentirão pesos negativos do seu ambiente sociocultural, pelo contrário, poderão continuar a exercer actividades de rentabilidade económica e social, de forma serena e mais saudável.

 

 

 

 

A nossa proposta: Novo Paradigma de Reforma Social:

 

SISTEMA REFORMA MISTO (SRM)

·         Como dizíamos no início deste documento, o ser humano vive actualmente, em média, muito mais tempo, e este facto, certamente muito bem-vindo para toda a humanidade, acarreta por outro lado problemas sérios, relativamente às reformas sociais cada vez mais prolongadas e duradoiras.

 

·         De tal ordem que em diferentes paragens da Europa e da União Europeia existem muitos a acenarem com a falência do sistema.

 

·         Nalguns países a solução imediata tem passado pelo aumento da idade de reforma para além dos 65 anos, mais 1 ano, mais 2 anos nalguns casos, como que adiando de forma precária e paliativa esta situação difícil.

 

·         Não nos parece a melhor solução, defraudando muitas expectativas legítimas dos sujeitos e suscitando actuações de negação e rebeldia social, pela sensação de injustiça, face a uma vida de trabalho e de sacrifícios que as ansiadas reformas vêm compensar.

 

·         Por outro lado e por tudo o que temos dito ao longo deste documento apresentado, também sabemos que as roturas imediatas que geram a paragem do trabalho rotineiro de anos a fio, para uma reforma em que não se sabe bem como se vai passar a viver, o que se vai fazer, também não se tem revelado útil, nem muito saudável.

 

·         Estudos psicológicos indicam-nos que o stress profissional, se exagerado, torna-se bastante negativo, mas a ausência repentina desse stress profissional também contribui de forma decisiva para outros tipos de stress social e isolamento, não menos negativo que o anterior e em etapas de vida mais frágeis, como tentamos descrever, acabando por gerar fracas estratégias de vida (coping) como reacção ás situações adversas da vida quotidiana a que todos reformados ou activos, estamos sujeitos. (Bennet, 2000)

 

·         A nossa proposta passa essencialmente por estas duas realidades.

 

·         Se por um lado existe um fim para tudo, até para uma vida de trabalho de maior ou menor intensidade, por outro lado essa vida profissional não precisa, nem deve terminar de forma brusca e abrupta. Não parece constituir “boas práticas”, para a sanidade mental e física dos indivíduos.

 

·         Temos ainda, como vimos, as grandes dificuldades crescentes da sustentabilidade da segurança social em todos os países da Europa, com reformados cada vez a viverem mais tempo.

 

·         Então teremos de encontrar um equilíbrio adequado para todos:

Governos, empresas, e sobretudo para as pessoas a quem se destinam os diversos empreendimentos dos mercados, não apenas como consumidores e números, mas como beneficiários legítimos de toda a iniciativa, desenvolvimento e progresso gerados pelo Homem.

 

·         A solução não será prolongar de forma coerciva as idades de reforma, antes encontrar de forma prática e inteligente verdadeiras e equilibradas alternativas.

 

·         Não nos compete sugerir metas de idade para as alternativas a empreender, 50 anos, 55 anos, 60 anos? Não somos economistas e muitos menos financeiros, mas sugerimos cálculos técnicos especializados e apropriados a esta iniciativa proposta.

 

·         A partir de determinada idade (55 anos por exemplo), os sujeitos poderão optar, ou não, como acharem melhor, de acordo com suas necessidades individuais e expectativas futuras para as suas vidas, por passar a ter tempo reduzido de trabalho, ou seja, 50% de tempo de trabalho útil, em dias inteiros ou meios dias, de acordo com negociação individual a realizar.

 

·         Desta forma e a partir desse prazo legalmente estabelecido e acordado pelas partes envolvidas, o seu salário mensal será composto por 50% de trabalho efectivo + 50% de reforma social, calculada pelos anos de contribuições, como actualmente acontece para as reformas ou pré-reformas definitivas.

 

·         Parece-nos que com legislação bem pensada, articulada e executada pelos governos e parceiros sociais, muitos indivíduos, talvez mesmo a grande maioria, adeririam de forma informada, convicta e desejada a esta alternativa mista, de vida profissional e de tempo de lazer para outras actividades que sempre desejarem realizar e possam de igual modo concretizar.

 

·         A sustentabilidade do sistema, assim partilhada em partes equitativas e equilibradas pelos estados e pelas organizações empresariais, durante vários anos, seria certamente muito melhor assegurada. De forma convicta.

 

 

Eventuais Questões deste Sistema de Reforma Misto

 

·         Pergunta: Durante quantos anos poderiam os sujeitos realizar este sistema misto de trabalho e restante tempo disponível?

·         Resposta: Quantos os desejados, pelos sujeitos e empresas respectivas, desde que, a partir da idade de reforma oficial “normal”, (65 anos?) as entidades empregadoras assim pretendessem dar continuidade, neste sistema misto, de acordo com resultados atingidos e com a concordância do sujeito de trabalho, em cada caso.

 

Certamente que, em muitos casos, com a satisfação de empregadores e empregados, muitos sujeitos só viriam a desejar a sua reforma total muitos anos mais tarde, prolongado por uma ou duas dezenas de anos este sistema misto, sentindo-se com saúde e bem-estar, pelo duplo papel significativo continuado, mas também alternativo, com mais tempo livre para netos, viagens ou outras actividades, mesmo considerando também actividades profissionais diferentes, se forem desejadas como alternativa suplementar.

 

·         Pergunta: Esta situação de sistema de reforma misto exposta, não poderá complicar mais ainda a entrada de jovens activos no mercado de trabalho?

·         Resposta: Não nos parece de modo algum.

No balanço de ocupação de postos de trabalho, a flexibilidade desta proposta poderá sim gerar mais postos de trabalho, sem o estigma de não se querer deixar o tempo total de trabalho pelo receio de maiores penalizações nas reformas.

Todo o mercado de trabalho se tornaria mais amplo como “uma mola social flexibilizadora”.

Por outro lado os mais jovens iriam beneficiar durante mais tempo da experiência dos mais velhos. Lembremo-nos que saltos de gerações têm maior tendência para entendimentos relacionais (avôs e netos sociais). A sabedoria acumulada dos mais velhos, associada à energia e ambição motivadora dos adultos jovens dará provavelmente maior rendimento.

 

·         Pergunta: Será que, num número de casos significativos, os indivíduos da chamada meia-idade, e com a proximidade da sua ansiada reforma, não se sentirão “cansados”, ou “desanimados” para optarem por continuar a terem responsabilidades laborais, mesmo que a meio tempo? O que poderão ganhar com esta alternativa do sistema misto?

·         Resposta: A “Chave” principal desta ideia/proposta reside precisamente nesta questão, senão vejamos:

1)      Vejamos o que pensam, geralmente, os indivíduos a partir dos 50 anos de idade sobre esta temática:

O que vou fazer quando me reformar?

Quando me irão considerar “a mais” na organização?

Será que me vão mandar embora? Serei convenientemente recompensado?

O que vou ganhar e perder com a minha reforma futura?

Terei mais tempo livre, certamente. E a minha importância pessoal, o meu “status social”? A minha imagem?

Como passarei a ser visto por familiares e amigos?

Continuarão a confiar nas minhas decisões, opiniões e competências, quando estiver reformado?

Vão considerar-me mais um “velho e inútil”reformado?

Enfim…e a minha saúde como vai evoluir? O que se passará no meu corpo?

Como vou reagir a isto tudo?

O que vai passar a acontecer na minha vida? Ou na vida que me resta?

 

2)      Muitas destas questões poderão estar no mínimo parcialmente reduzidas, ou resolvidas com o Sistema de Reforma Misto (SRM).

A melhor resposta, em qualquer idade, à pergunta sacramental, dramática e tradicional, o que vou fazer na minha reforma (?), passará pelas seguintes novas formulações agrupadas ou desagrupadas de forma simples:

 

§  Não me vou reformar completamente, mas apenas de forma parcial;

§  Vou continuar a trabalhar, mas vou ter mais tempo livre…para o que quiser fazer; isso agrada-me bastante;

§  Continuarei a ser útil e respeitado, como profissional competente;

§  Terei mais tempo para mim e para a família e amigos, sem me reformar;

§  Poderei encarar melhor os meus problemas físicos degenerativos, com menor influência de contágio do stress profissional negativo; terei maior disponibilidade para olhar pela minha saúde e bem-estar, em vez de adiar possíveis problemas até à reforma total;

§  Continuarei a ser activo, mas apenas na medida das minhas possibilidades, físicas, psicológicas ou sociais;

§  Continuarei assim até quando desejar, sem medos e ameaças veladas, ou pelo menos minimizadas, e com menos hipocrisia profissional;

§  Terei, é certo, menos energia, mas terei saber acumulado e experiência que poderá continuar a ser de grande utilidade à organização e a outros colegas da mesma; este facto não será desvalorizado de qualquer maneira;

§  Não terei todo o tempo livre, como acontecia nas “antigas reformas”, se me reformar a tempo inteiro aos 65 anos, ou mais cedo com grandes penalizações pelo tempo incompleto. Mas para que me serviria todo esse tempo livre se ao fim de poucos anos, ficar mais isolado, menos reconhecido e provavelmente com menos meios económicos e de rede social;

§  Serei mais livre, sem estar “tão desligado” dos outros e sentir-me-ei mais útil a mim próprio, aos colegas, aos familiares e aos amigos;

§  Não serei obrigado a aceitar o novo sistema misto. Se não optar pelo sistema misto, se a mim não me convier, optarei pela reforma tradicional com ou sem mudanças evolutivas da legislação.

 

·         Como tentamos demonstrar neste documento, à luz dos conhecimentos mais modernos da Psicologia, este SRM pode revelar-se uma das melhores soluções para os anseios mais legítimos dos indivíduos de média e terceira idades.

 

·         Mantendo, apesar de todos os problemas da velhice que se forem aproximando ou manifestando em cada caso, papéis significativos que confiram maior dignidade à pessoa humana, necessariamente que se irão minimizar estados depressivos e ansiosos, podendo constituir, parece-nos, noutra vertente de análise, uma melhor sustentação das reformas sociais em Portugal e na Europa.

 

·         Partilhando-se responsabilidades no tempo, quer dos estados governamentais quer das organizações empresariais ou institucionais, em geral, todo o processo poderia ser eficazmente melhorado, no futuro.

 

·         De mais saudável para os indivíduos e de forma mais rentável para os governos, para as empresas e diferentes instituições.

 

·         Assim nos parece.

 

 
  
CONCLUSÔES

 

A Europa confronta-se com um problema sério: As reformas da segurança social no presente e no futuro, com o envelhecimento progressivo das populações e com taxas de natalidade cada vez mais baixas!

 

Por outro lado avanços no conhecimento da Psicologia têm tentado demonstrar que não é útil nem saudável para os indivíduos deixarem de exercer de forma precoce, papéis significativos na sociedade, contribuindo este facto para agravar inúmeras patologias físicas e mentais, prejudicando o bem-estar geral.

 

Por tudo quanto fica dito e descrito, estaremos disponíveis para análises mais profundas desta proposta SRM, enquadrada no domínio socioprofissional, psicológico e cultural, em Portugal e/ou noutros países europeus. Será bom para os sujeitos e para as diferentes comunidades sociais.

 

Poderemos estar perante um novo paradigma de racionalidade e de reflexão que francamente nos parece valer a pena desenvolver.

Façam-se estudos adequados. Não nos parecem ser muito difíceis ou complexos.

 

Devemos pensar sempre em primeiro lugar nas pessoas, porque as diferentes instituições económicas, financeiras, sociais e/ou culturais só têm sentido de existência para servir os indivíduos em sociedade, de forma plena.
 
 
 
 
 

 

Autor:

 

Eduardo H. F. Silva Pinto

Licenciado em Psicologia

(Ex-Director Comercial na Indústria Farmacêutica)

Vila Nova de Gaia

Novembro de 2013

 

Bibliografia

 

*      Bennett, P. (2000). Introdução Clínica à Psicologia da Saúde. Lisboa: Climepsi Editores

*      Fischer, G. e Tarquino, C. (2006). Os Conceitos Fundamentais da Psicologia da Saúde. Lisboa: Instituto Piaget

*      Goleman, D. (1995). Inteligência Emocional. Camarate: SIG

*      Goleman, D. (2006). Inteligência Social. Barcelos: Companhia Editora do Minho

*      Moreira, P. e Melo, A. (2005). Saúde Mental, do Tratamento à Prevenção. Porto: Porto Editora

*      Ogden, J. (2000). Psicologia da Saúde. Lisboa: Climepsi Editores

*      Rogers, C. (1989). Tornar-se Pessoa. Lisboa: Padrões Culturais Editora

*      Vala, J. e Monteiro M.B. (2010) Psicologia Social. Lisboa: Fundação C. Gulbenkian